segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Perdão senhor, clemência



Sentia dali, quase tudo
As duas mãos sobre a cabeça
pareciam lhe dizer:
Perdão, senhor, clemência.

O fim do sufoco já se dava anunciado,
E as ultimas horas de penumbra
não podiam ser puladas,
ou nem mesmo evitadas...

Perdão, clamava
por lhe faltar a paciência.
Pela ânsia que carregava
em seus ombros
o peso de escombros
dentro da sua cabeça
O tão desejado recuo
A tão estranhada delicadeza.

Perdão, clamava pela parte adoentada
Quase sempre a carne fraquejada
As histórias do passado reviradas
Pela falta de talento escancarada
Ausência de esmero,
de esforço, de vivência
Assim na cena,
na faixa gravada
o retorno de algo ruim

Já se havia dado e ali
Se anunciava.

Perdão, senhor, clemência
Pelo falta de alvoroço desse povo
em fugir desse outro estorvo
Pelo excesso de dormência
pelo engodo.

Seria oração , hit,
Seria samba,  canção
Seria uma crise de rinite sem nenhuma pretensão?

Ouvia o latido dos cachorros
as vidas presas em garagens de 3 carros,
dias e dias sendo expressos em latidas
Em xixis - pés de portão, cheiro de cocô, de ração

Vontade represada, assim amontoada
tanta família subindo e descendo
pela mesma escada.
Uns sem varanda, uns sem fogão,
Outros sem televisão, sem sacada.

Foco nos gritos da doida quase varrida
que cuida de sua rua,
mas não cuida da sua casa
da vida que lhe possui,
não vive quase nada,
tanto lixo, tanto mijo em sua rua,
que, de si, não sabe quase nada.

Ouve soluços,
ouve os gemidos
loucos, lúcidos
uivos, grunidos
pedidos de amores surdos
Ouve os sentidos
Ouve até os absurdos
Escancarados, escondidos
Em perfis bloqueados,
Em áudios gravados
Em artistas falidos
assim relançados
Quem iria ouvi-los

Pagar para vê-los

Nem de graça assisti-los.
Depois de tanto perdido
Depois de tanto passado

A lua encostada na terra
também faz o seu barulho,
no céu que lhe faz o sentido
em volta de si
O pesado obscuro
O peso de cada segundo
O pensamento moribundo.

Espera, espera, e espera.
O sábado passou num segundo,

E o cabelo crescendo, 

os meus pelos rompendo esse mundo

Como diria o Canhameiro
Eu sem cabeleireiro

Pareço homem para uma criança boliviana
Para a mulher que lava o banheiro da feira
eu não posso mais entrar
Só Porque nao uso coque,

Só porque não faço o buço
E das unhas, desisti.

Haverá sim de clarear
Haverá sim de ter mais vida
por detrás desse outro muro
outro mundo mais claro
ou talvez mais obscuro.

Uma pomba de batom vermelho
debatendo suas asas
como quase muribunda,
caída à beira da estrada,

A cena na memória já gravada,
como os pombos, na despedida,
olhando o taxi, da calçada

Talvez ninguém mais lembre

Mas eu lembro, fui deixada.


Apenas compus a historia
de quem ficou sem ter mais nada.

Nada contra o batom vermelho,
Nada contra termos asas.

O problema da pomba é o azar,
e se cruza assim a estrada
acaba por ser atropelada,
por quem não se abala mais por nada.

Não pelo batom vermelho,
jamais pelas asas rasas.

Mas pela regalia
de se achar a dona da casa
que nunca foi deixada

E nem sequer abandonada.

Aqui, se dorme em resistência

Queridas, pombas de finas penas.


Aqui, meu bem, não passa nada

Aqui há força e fé, apenas.

E uma alma consagrada.


Esse foi o meu relato
No mês de Agosto,
Uma jornada
Uma vitoria alcançada.



Desenho Edmilson Martins, sessão Modelo Vivo Sesc Pompeia.

Texto e modelagem: Fernanda Toscano


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